segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Mulheres trabalhadeiras e a cultura de resistência em Vila Chã
Sally Cole, canadiana e professora de antropologia na universidade de McMaster, estudou as mulheres de uma comunidade costeira, trabalho de terreno de que resultaria a obra traduzida e publicada em 1994, Mulheres da praia - O Trabalho e a vida numa comunidade costeira portuguesa (Lisboa, D. Quixote). Interessava-lhe a relação entre o trabalho das mulheres e a diferença entre os sexos em termos sociais. As abordagens dos anglo-saxónicos haviam dado a perceber as mulheres como filhas de pais, mulheres dos maridos e mães dos filhos, mas sabia-se muito pouco sobre as suas relações com a propriedade, com as outras mulheres, a auto-percepção e o seu papel de mulheres na sociedade. No contexto de Vila Chã, no concelho de Vila do Conde, as mulheres identificam-se pelo seu trabalho produtivo e habilidade na gestão dos recursos familiares. Mesmo as mães solteiras eram avaliadas sobretudo pelas suas capacidades no trabalho - carácter laborioso e frugalidade - e menos em termos da sua sexualidade ou do seu estado civil. Numa sociedade que foi mudando, as mulheres das casas marítimas continuam a trabalhar na pesca, mas não vão já ao mar: «ajudam os maridos» na praia. As mulheres marítimas são menos autónomas agora e as suas filhas são mão-de-obra desqualificada e mal paga, sem poder de decisão sobre o seu tempo ou as suas condições de trabalho e sem a autonomia das mulheres das gerações anteriores. Existe em Vila Chã um novo entendimento do significado e do processo de representação do masculino e do feminino, quer como processos de construção de ideias relativamente aos papéis a desempenhar por cada sexo, quer na manipulação desses ideais.
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